‘Não há liberdade, a ditadura de Ortega está corroendo todas as áreas da vida na Nicarágua’
- EVELLYM LIMA
- 4 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Em entrevista a Oeste, refugiada conta como é viver naquele país e comenta o apoio da esquerda brasileira ao ditador sandinista

Rosa — nome fictício por razões de segurança — é uma mulher de 22 anos que deixou a Nicarágua aos 12, quando a situação econômica do país piorou consideravelmente e o e o autoritarismo de Daniel Ortega, ditador do país, ficou cada vez mais evidente.

Filha de uma nicaraguense e de um guatemalteco, Rosa nasceu na Guatemala, mas passou toda a infância na Nicarágua, desde que tinha 1 ano. Depois que deixou o país, ainda conseguia voltar constantemente para visitar membros da família. Mas o autoritarismo foi crescendo cada vez mais, e ela não volta mais à Nicarágua desde 2018.
“A Nicarágua era o meu lar”, disse Rosa. “Foi assim até 2018, quando a situação política explodiu, e minha família decidiu que o melhor era não voltar mais por causa do perigo. Em 2018, baniram todos os protestos e tudo o que fosse contra Ortega.”
Naquele ano, milhares de nicaraguenses protestaram contra o governo de Ortega, chegando a pedir renúncia. A resposta do ditador foi violenta. A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) estima que 355 pessoas foram mortas. Já as organizações locais calculam 684. Acusado de terrorismo, um opositor de destaque foi condenado a 216 anos de prisão.
Além de indivíduos, Ortega também persegue a Igreja Católica e os cristãos no geral. De acordo com a organização Portas Abertas, a Nicarágua é um dos 50 países em que os cristãos são mais perseguidos. Ortega já dissolveu a Ordem Franciscana e outras mais de 3 mil organizações privadas, incluindo sindicatos empresariais, universidades católicas e a Cruz Vermelha.
Os avós de Rosa ainda vivem dentro da ditadura. Por causa da idade, o país é tudo que eles conhecem. É pela vida deles que Rosa prefere não mostrar o rosto nem o nome verdadeiro.
Estudante de ciência política, a jovem também é líder do Ladies Of Liberty Alliance (LOLA), uma organização internacional liberal voltada para as mulheres.
Há dois anos no LOLA, Rosa atua com mulheres nicaraguenses no movimento, principalmente estudantes. Ela se reúne com as associadas por chamadas virtuais. Mas as associadas também fazem reuniões presenciais na Nicarágua, que precisam ser secretas — se descobertas, seriam consideradas traição contra o regime.
“É preciso camuflar, não podemos admitir que somos um movimento de mulheres libertárias”, diz Rosa.
Em sua viagem a São Paulo, Rosa visitou Oeste e deu detalhes sobre o país em que viveu sua infância. Ela também comentou sobre o apoio da esquerda brasileira ao regime de Ortega.
Este artigo foi originalmente publicado na Revista Oeste.




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