O comunismo não existe sem ditadura
- Anne Dias

- 10 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
É crucial entender como o comunismo, em sua aplicação prática, tende a concentrar o poder nas mãos de uma elite governante

Quanto tempo você consegue ficar sem energia? Já imaginou enfrentar um apagão de 18 horas várias vezes por semana? O estrago que isso causaria no seu trabalho? E chegar ao supermercado e não encontrar comida disponível para levar para casa? Sem saber o que preparar para o jantar dos seus filhos? Como seria essa vida? Parece uma distopia, mas essa é a realidade de quem vive em Cuba.
No domingo, 17, em Santiago de Cuba, a segunda maior cidade da ilha, "energia" e "comida" foram as palavras de ordem do protesto que levou centenas de manifestantes às ruas. A escassez de alimentos e os apagões são alguns dos resultados de uma ditadura comunista que rege o país há mais de seis décadas.
Além das consequências visíveis, é crucial entender como o comunismo, em sua aplicação prática, tende a concentrar o poder nas mãos de uma elite governante. Nesses regimes, partidos políticos únicos controlam todos os aspectos da vida pública e privada, restringindo severamente as liberdades individuais. A falta de pluralismo político e a ausência de mecanismos eficazes de prestação de contas resultam em um ambiente opressivo, no qual a dissidência é reprimida e a liberdade de expressão é sufocada.
Quando pensamos nessa situação caótica, é natural imaginar que a solução mais óbvia seja protestar nas ruas contra o governo. No entanto, isso não é uma opção simples, devido à grave repressão policial imposta pelo próprio governo. O último grande protesto contra o regime comunista em Cuba ocorreu em 2021 e resultou na condenação de mais de 400 pessoas a penas de 10 a 18 anos de prisão, simplesmente por lutarem por liberdade. A existência da possibilidade de ser preso ao se manifestar ilustra a gravidade dessa realidade.“Mas isso deve ocorrer em Cuba não devido ao comunismo, mas sim à ditadura que o país enfrenta”. Será mesmo?
Na verdade, a resposta é justamente a oposta. Um regime comunista prega a ideia de uma sociedade na qual os meios de produção, distribuição e troca de bens e serviços são de propriedade coletiva ou estatal, em oposição à propriedade privada. E a propriedade privada é um dos valores mais primordiais de uma sociedade livre, já que ela garante aos indivíduos o direito de possuir, controlar e usufruir dos frutos do seu trabalho e esforço pessoal. Isso não apenas estimula a iniciativa e a criatividade, mas também proporciona um ambiente no qual a competição saudável e a diversidade de ideias possam florescer.
Por isso, o único jeito de sustentar o ideal comunista é através da imposição, ou seja, a ditadura. Um não existe sem o outro.
E é claro que com o avanço das ideias comunistas, a propriedade é o primeiro direito a ser violado. Mas logo depois vêm vários outros, como a liberdade de expressão, com a proibição da divulgação de ideias opostas ou até mesmo regulamentação e proibição de redes sociais; a liberdade de associação e organização, com a proibição de grupos de protestos; a liberdade econômica, com a estatização de todos os principais meios de produção; e por fim, a liberdade política, que é o mero direito de escolher quem dita as diretrizes a serem seguidas em seu país.
Um exemplo disso é o que temos visto recentemente na Rússia. Há poucos dias, ocorreram "eleições" em que Putin venceu com 87% dos votos, e agora continuará no governo até 2030. Com a maioria dos candidatos da oposição presos ou mortos, esse número não surpreende ninguém. Isso só comprova que em nome dos ideais comunistas, o povo russo não tem o direito de questionar seu governo, pois sabemos bem o que acontece com quem decide fazer oposição, e nem podem escolher seu governante, porque não há mais liberdade política neste país.
Também podemos falar da distopia existente na Coreia do Norte. Sob o regime comunista liderado pela dinastia Kim, o país enfrenta uma repressão brutal e sistemática das liberdades individuais. A população norte-coreana vive sob um controle rígido, em que as liberdades de expressão, associação e escolha política são severamente restringidas. As eleições são meramente simbólicas, com o governo exercendo um controle absoluto sobre o processo político e a vida dos cidadãos. A falta de direitos básicos e a imposição de um pensamento único ilustram como o comunismo resulta em uma sociedade repressiva e sem liberdade.
Apenas a liberdade é compatível com a democracia. Falar em comunismo e democracia é uma incongruência lógica. Ambos não coexistem. Não há espaço para democracia em países que optam por seguir a cartilha ideológica marxista. Quem defende o oposto ou vive numa cegueira ideológica vendida como moralmente correta, ou é mal intencionado! É por isso que sempre precisamos permanecer vigilantes, pois os avanços dos ideais comunistas em qualquer esfera ou grau de liberdade representam uma ameaça para uma sociedade livre.
Anne Dias é advogada, presidente do Lola Brasil, diretora do Programa de Núcleo do Lola Internacional (Ladies Of Liberty Alliance)
As opiniões emitidas pelos colunistas não necessariamente refletem as opiniões de O Antagonista e Crusoé.
Este artigo foi originalmente publicado na Revista Crusoé.




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